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Estudo biblico: Gênesis 1


Gênesis 1.1-11.26
Em uma série de histórias e genealogias altamente condensada, esta seção do livro trata da origem do universo, da origem da ordem nesta terra, da origem da vida, da origem do homem, da origem do pecado, da violência e desordem, e da origem das dife­renças nacionais e linguísticas.

CRIADOR EM AÇÃO (Gn 1.1-2.3)
Pela brevidade e beleza da composição e do estilo, esta vinheta sobre a criação é inigualável. O Deus-Criador domina a cena. Ele fala e imediatamente se forma a ordem, proporcionando um belo lugar de habitação e de abundantes suprimentos para a criação mais sublime de todas: o homem. Majestade e poder marcam cada sentença.

O Ato Inicial (Gn 1.1,2)
Em resposta à pergunta “Quem fez todas as coisas?”, a Bíblia declara ousadamente: Deus... criou (1). Em resposta à pergunta “Quem é anterior e maior que todas as coi­sas?”, com igual ousadia a Bíblia anuncia: No princípio... Deus.' O céu e a terra não são Deus nem deuses; nem é Deus igual à natureza. Deus é o Criador e a natureza é seu trabalho manual.
Embora feita por Deus, a terra não estava pronta para o homem. Ainda estava em desordem, sem forma e vazia (2), e não havia luz. Contudo, havia atividade. O Espíri­to de Deus se movia continuamente sobre a face das águas.

O Dia da Luz e das Trevas (Gn 1.3-5)
Energia é necessidade vital para o hábitat do homem, e luz é energia. Por conse­guinte, a primeira ordem de Deus foi: Haja luz (3). A ênfase na palavra falada de Deus é tão grande que cada dia criativo começa com uma ordem ou expressão da vontade divina.' Em seguida, ocorre a execução da ordem e a declaração culminante:Era bom ou equivalente (e.g., 4,10,18).

O Dia das Águas Divididas (Gn 1.6-8)
As águas foram separadas, e acima da terra havia uma expansão(6). A palavra expansão ou firmamento transmite a idéia de solidez.' Contudo, a ênfase na palavra hebraica original raqia não está no material em si, mas no ato de expandir-se ou na condição de estar expandido. Por isso, a palavra “expansão” é muito apropriada.
Em diversos lugares do Antigo Testamento, o ato de estender os céus é proeminente (ver Jó 9.8; 26.7; Sl 104:2; Is 45.12; 51.13; Jr 51.15; Zc 12.1). A evidência de que Deus é o Criador acha-se no ato de estender e não no caráter do que foi formado.' Ao longo do Antigo Testamento, o interesse se centraliza nas relações de Deus com a natureza e o homem. Deus é o Criador, e a partir desta declaração o Antigo Testamento passa a mos­trar que a natureza é uma criatura e uma ferramenta. Do mesmo modo, Deus julga, livra e cuida do homem.

O Dia da Terra e do Mar (Gn 1.9-13)
O terceiro ato de Deus dizia respeito à formação de um futuro hábitat para o homem, que é criatura da terra. O alimento para o homem, a vegetação, cresce na terra. Sob a ordem de Deus, terra e mar se separaram, e forma, vida e beleza enfeitaram a terra. O texto não descreve como estas separações ocorreram, nem há uma lista das forças dinâmicas e naturais envolvidas. Ao invés disso, a relação de um Criador poderoso com uma criatura obediente e flexível é o tempo todo, e claramente, mantida dian­te do leitor.
Dramaticamente, Deus se voltou para a terra agora visível e deu-lhe ordens. Apare­ça a porção seca (11) não era admissão de que as substâncias inorgânicas possuíam o poder inerente de produzir vida.' Muito pelo contrário, a vida em si acha-se, no final das contas, na palavra criativa de Deus e imediatamente surge em resposta à sua ordem.
Seguindo um padrão de pares — luz e trevas, águas que estavam sobre e águas que estavam debaixo, terra e mares —, agora ocorre uma série de grupos de três. Erva, erva dando semente... e árvore frutífera (12) são agrupamentos muito generalizados e não devem ser considerados classificações botânicas no sentido moderno.
A frase conforme a sua espécie' indica limites aos poderes de reprodução. Mas não fornece um projeto que esboça linhas limítrofes. O destaque está na segurança observável da natureza: trevo produz trevo, trigo produz trigo, etc. E assim foi (11) ­e ainda é.

Dia dos Dois Luminares (Gn 1.14-19)
Os pagãos adoravam o sol, a lua e as estrelas como deuses e deusas de poder formi­dável. Na narrativa deste dia da criação, oluminar maior (16) e o luminar menor nem mesmo são nomeados. Em poucas sentenças hábeis, o autor descreve a criação destes corpos celestes, os quais, depois, são incumbidos de executar certas tarefas nos céus.' Eles possuem uma dignidade de governo e nada mais. As estrelas também recebem não mais que uma menção honrosa. Que golpe contra o paganismo!

O Dia dos Pássaros e dos Peixes (1.20-23)
Pelo motivo de a luz e as trevas serem comuns a ambos os dias, o primeiro dia (3-5) e o quarto dia (14-19) estão relacionados. Também o segundo (6-8) e o quinto (20-23) estão relacionados no ponto em que lidam com a expansão, em cima, e as águas, embai­xo. No quinto dia, Deus falou uma palavra para as águas (20), as quais produziram criaturas e pássaros encheram o ar. No versículo 21, vemos outra tríade: as grandes baleias... todo réptil de alma vivente... e toda ave de asas.
O texto não nos conta como as águas colaboraram com o Criador, mas para enfatizar a estreita ligação entre Deus e estas criaturas é empregado o verbo criou.' As diferenças surpreendentes entre a vida botânica e a biológica são atribuídas a um ato divino. Deus os abençoou (22). No Antigo Testamento, a bênção divina é um ato criativo e uma capacitação para que aquele que a recebe cumpra seu destino segundo a vontade de Deus. Neste caso, a vontade de Deus é que as criaturas se reproduzam abundantemente... conforme as suas espécies (21). Este ato serviu para anular a condição anterior “vazia” (2).

O Dia dos Animais e do Homem (1.24-31)
Dando mais uma ordem: Produza a terra alma vivente (24), Deus encheu a terra de criaturas: as bestas-feras da terra (os animais selvagens, 25), gado e... todo rép­til que se move sobre a terra (26).
Mas este dia teria a coroação do ato criativo. A deidade, em deliberação, disse: Faça­mos o homem (26).9 Esta criatura tinha de ser diferente. Deus disse que o homem tinha de ser feito à nossa imagem, tendo certa semelhança com a realidade, mas care­cendo de plenitude. O homem devia ser conforme a nossa semelhança,tendo similitude geral com Deus, mas não sendo uma duplicata exata. Não era para ele ser um pequeno Deus, mas definitivamente tinha de estar relacionado com Deus e ser o portador das características distintivas espirituais que o marcam exclusivamente como ser superior aos animais.'
Em 1.26-30, encontramos “O Homem Feito à Imagem de Deus”. 1) Um ser espiritual apto para a imortalidade, 26ab; 2) Um ser moral que tem a semelhança de Deus, 27; 3) Um ser intelectual com a capacidade da razão e de governo, 26c,28-30 (G. B. Williamson).
Uma das marcas da imagem de Deus foi Ele ter dado ao homem ostatus e o poder de governante. O direito de o homem dominar (28) ressalta o fato de que Deus o equipou para agir como governante. A aptidão para governar implica em capacidade intelectual adequada para argumentar, organizar, planejar e avaliar. A aptidão para governar im­plica em capacidade emocional adequada para desejar o mais alto bem-estar dos súditos, apreciar e honrar o que é bom, verdadeiro e bonito, repugnar e repudiar o que é cruel, falso e feio, ter profunda preocupação pelo bem-estar de toda a natureza e amar a Deus que o criou. A aptidão para governar implica em capacidade volitiva adequada para esco­lher fazer a toda hora o que é certo, obedecer ao mandamento de Deus indiscutivelmente e sem demora, entregar alegremente todos os poderes a Deus em adoração jovial e parti­cipar em uma comunhão saudável com a natureza e Deus.
Deus criou o homem para ser uma pessoa que tivesse autoconsciência, autodetermi­nação e santidade interior (Ec 7.29; Ef 4.24; Cl 3.10). A imagem foi distribuída sem dis­tinção de macho e fêmea, tornando-os iguais diante de Deus.
Como Deus abençoou (22) o que previamente havia criado (21), assim Deus outra vez abençoou (28) esta fase da sua obra. Incumbiu o homem com a responsa­bilidade de reproduzir-se e sujeitar à sua superintendência a terra e tudo que nela havia.
O ato de abençoar o gênero humano é de significado mais amplo que o de abençoar os animais (22). O homem é capaz de ter consciência dessa bênção e pode responder a ela. “Abençoar” em relação a um ser racional é ato de transmitir um senso da vontade de Deus para o abençoado. Isto é especialmente significativo para o homem, pois a ordem de procriar coloca a aprovação de Deus no ato de reprodução. Essencialmente, a relação homem-mulher na procriação é boa, está dentro da vontade de Deus e é básica para o bem-estar deles.
No Antigo Testamento, há dois aspectos para o ato de conceder bênçãos. Da parte de Deus, há o ato de um Ser superior concedendo favor a quem é dependente dele. Da parte do homem, há o retorno da gratidão ao Doador de dons (Gn 24.48; Dt 8.10).
Aspecto importante da bênção de Deus era a concessão de poder e habilidade para sujeitar e dominar (28) os outros seres criados que habitam a terra. Mas era uma autori­dade delegada, um governo subordinado, pelo qual o homem prestava contas a Deus. Presumimos que a responsabilidade de controlar a vida animal não acarreta o direito de abusar dela, caso contrário não teria sido bom.
Deus concedeu ao homem o direito de usar os frutos da vida vegetal para comida (29). Isto não lhe deu o privilégio de explorar a natureza, deixando para trás estrago e desolação. O cuidado apropriado dos frutos da vida vegetal tem necessariamente de acar­retar o cultivo (2.15) e a conservação dos recursos naturais.
O fato de os animais, sujeitos ao controle do homem, também se alimentarem de plantas, toda a erva verde (30), destaca ainda mais a responsabilidade que pesa sobre o homem. Ele é responsável por controlar a natureza de modo que a natureza supra as necessidades de todas as criaturas vivas e não só as necessidades do homem (ver 9.3 sobre a permissão de comer carne).
A morte de animais não é mencionada, embora não haja razão para presumir a ausência de morte animal antes da queda. O foco está na vida, na harmonia, na ordem e na aptidão de forma e função para o domicílio terrestre do homem.
Em Gn 1.1-5, 26-31, vemos a “Criação pela Vontade Onipotente”, com a idéia central no versículo 1. 1) Causa adequada, 1,2; 2) Desígnio evidente, 2-5; 3) Homem semelhante a Deus, 26-30; 4) Concepção onisciente, 31 (G. B. Williamson)

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